terça-feira, novembro 08, 2011

Elegia dos velhos amantes (ou de como Brel nos enganou!)

Não sou capaz de te amar. Não sou capaz de voltar a ver os teus vinte anos nem de imaginar o teu corpo antes do tempo que passou por ele. Pesadamente… Vejo agora um homem que não amo. Não respeito. Tudo continua a arder à nossa volta e nós secámos até nos transformarmos num riacho murcho. Seco. Árido e deserto onde nada vai crescer… nem nascer…

O que devo fazer ao desejo póstumo que sinto de outros corpos, de outros espaços, de outras emoções? Que farei com esta vontade de voar? Para onde me lançarei com estas novas asas renascidas, amputadas quando acreditei que te amava, que te amaria? Foi esse amor que me amarrou a ti e a esta casa e a este lugar que me deixou tão amarga e destemperada, tão desesperada pelos anos perdidos, tão angustiada pelos corpos que já não amarei porque a idade também passou por mim…

Está tudo perdido. Secámos até à infertilidade. Ou foi a minha infertilidade que nos secou? Sem filhos e sem amor, que faremos com esta vida que ninguém quer?

Estou perplexa diante deste pedaço de papel onde te anuncio que vou embora e desta vez para sempre. Não voltarei só porque estarás à minha espera. Desta vez, não! Sei que já não tenho idade para emoções juvenis e que talvez não encontre outro homem, alguém que me renove a alma, mas prefiro definhar sozinha a ter que acompanhar o nosso fim. Com raiva. Com pena de ti porque ainda me amas à tua maneira. Com medo de voltar a estar só.

Desta vez, escrevo-te um guardanapo definitivo.

segunda-feira, setembro 19, 2011

O medo-mundo que temos....



Conferências do Estoril 2011 - Mia Couto

terça-feira, julho 26, 2011

La chanson des vieux amants

Tenho amores fiéis com frequência...



Jacques Brel
LA CHANSON DES VIEUX AMANTS
1967


Bien sûr nous eûmes des orages
Vingt ans d'amour c'est l'amour fol
Mille fois tu pris ton bagage
Mille fois je pris mon envol
Et chaque meuble se souvient
Dans cette chambre sans berceau
Des éclats des vieilles tempêtes
Plus rien ne ressemblait à rien
Tu avais perdu le goût de l'eau
Et moi celui de la conquête

Mais mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime

Moi je sais tous tes sortilèges
Tu sais tous mes envoûtements
Tu m'as gardé de pièges en pièges
Je t'ai perdue de temps en temps
Bien sûr tu pris quelques amants
Il fallait bien passer le temps
Il faut bien que le corps exulte
Finalement finalement
Il nous fallut bien du talent
Pour être vieux sans être adultes

O mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime

Et plus le temps nous fait cortège
Et plus le temps nous fait tourment
Mais n'est-ce pas le pire piège
Que vivre en paix pour des amants
Bien sûr tu pleures un peu moins tôt
Je me déchire un peu plus tard
Nous protégeons moins nos mystères
On laisse moins faire le hasard
On se méfie du fil de l'eau
Mais c'est toujours la tendre guerre

O mon amour...
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime.

terça-feira, março 15, 2011

até à lua cheia...

... é apenas vida em quarto crescente...

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terça-feira, fevereiro 22, 2011

a minha aldeia

aquele Fermentelos que sempre pensei detestar surgiu belo na memória, numa redenção que só acontece quando a infância se vê ao longe, num baloiço. as hortas, os caminhos de terra e pó. os caminhos de buracos de lama no inverno, as calças arregaçadas até aos joelhos para não se chegar à missa de domingo já manchada de vergonha e de pobreza... na igreja, as filas de crianças alinhadas à frente . o caminho longo e escuro até à leitaria. as silvas a vergar de amoras escuras. as silvas presas às baínhas das saias. as silvas presas à carne. arrancar os espetos da carne. e mais tarde, o namoro de beira de estrada, inclinados em motas de fingir, na falsa coincidência de todos os encontros. o avô a podar as videiras com a sua mão parca de dedos e a abrir carreiros entre o quintal, como os engenheiros auto-estradas. e o avô a morrer e eu sem coragem de o visitar convencida de que assim adiaria a morte. eu só queria atrasar a morte. a infância das férias de verão intermináveis no meu tédio desesperado e o trabalho de campos. a Laica presa com uma corda ao carroço cheio de erva ainda úmida. a foice a cravar as mãos miúdas de calos. e a cadela feliz e solta. e eu era também feliz e solta e não sabia.