quarta-feira, fevereiro 08, 2006

De onde vens?

... que não te vejo. não sei o que andas a fazer em mim, entrando sem previsões. e hoje não me apetecia nada estar triste. não me apetecia ter que chorar. sempre há pessoas perto, corpos à minha volta e a minha humilhação liquidificada só serve de purgante para eles...

de onde chegaste? do fim-de-semana inseguro? do trabalho tão interminável que passará a data de validade? do meu olhar para tudo com os olhos escuros? do meu desemprego?

"tu eres la llave de vuelta y media, la una la que abre, la media la que cierra" (José Mercé)

terça-feira, fevereiro 07, 2006

O beijo (curta-metragem 1)

... e foi quando eu voltei a cabeça e voltei a ver tudo. tudo outra vez. devagar. ele agarrava-a contra a parede e eu vi tudo. beijou-a num beijo mutuamente consentido. sim, vi. e doeu uma dor pequenina e alcoolizada, embrulhada em analgésico etílico ... e depois acabou. não era possível continuar a brincar porque sentiamos que era um jogo masoquista.

... pergunto-me há quanto tempo ela estará apaixonada por ele. como me suportará. como conseguirá fingir que suporta o que digo e faço. pergunto-me se não seria capaz de lhe arrancar todos os cabelos...

... e volto a ver tudo. outra vez. ele agarra-a contra a parede. outra vez. na minha cabeça todos os dias vejo aquele beijo consentido... que eu terei provocado, pensando que o analgésico funcionaria para lá da consciência, do sentimento, da visão material, dos factos... depois acabou.

... pergunto-me se vale a pena brincar assim... às escuras... dentro de mim sem saber durante quanto tempo vai doer. pergunto-me se não era capaz de sair pela rua a distribuir beijos... pergunto-me se vai doer menos quando deixar de o amar... e forem ambos pó.

volto a ver tudo e fecho os olhos.... mas estou sóbria. ainda dói. e ele ainda a beija contra a parede.