sábado, janeiro 27, 2007

migração

um dia também partirei com os pássaros
e saberei que amar-te
terá sido um instinto sazonal

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Autobiografía de una puta

en todas las esquinas del tiempo
te espero
te busco
me pierdo
(SIN TI)

son tus manos que me cogen
me abrazan
salidas de los brazos de otros hombres
(CONTIGO)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

O Livro dos Bons Princípios (25)

Procurei fora de mim o amor que me devia… nunca o encontrei… Procurei-o no corpo de todas as mulheres, no rosto de cada filho, no gozo da heroína… procurei-o nos homens com quem dormi.

"Nunca amaste ninguém porque o amor parte de dentro. Apenas te distraíste." Deve ser verdade, I.!

Numa daquelas noite com Ele, disse-me que o verdadeiro amor tinha um poder incontrolável e que eu nunca abandonaria a minha vida por amor, como ele fizera… Claro que não! Para quê comprometermo-nos com alguém se basta aprender a dizer, em várias línguas, "voulez-vous coucher avec moi"? Tive pena de não o ter aprendido em serrano, para evitar aquele jogo de rato que quer ser comido por um gato na dieta…

Houve aquela noite em que quis ser assediado por I., para deixar de lhe resistir, podendo alegar depois que o corpo não tem consciência! Ele ficou quieto, acho que para não ser negado como das outras vezes! Merda! Eu queria-o e Ele ficou parado de cegueira, sentindo-se indigno de quem o desejava… Devia ter-lhe falado na língua que ele aprendeu na serra, com as cabras e os cães com cio!

A experiência de outros princípios em O livro dos bons princípios. O que há de comum entre O afinador de sinos, Divas e Contrabaixos e esta saturação?

sábado, janeiro 13, 2007

devir

quero rebentar-me contra o teu corpo
e desaparecer com a precisão das ondas

terça-feira, janeiro 09, 2007

aula de leitura

como uma criança
que não aprendeu a ler
abro o livro breve do meu corpo
e espero que os teus dedos
se encaminhem na leitura
ensinando-me os sons
as sílabas
as palavras
onde se perdem os sentidos

quinta-feira, janeiro 04, 2007

O Livro dos Bons Princípios (20)

Era o quarto filho dos Pereira, para quem as esperanças de uma vida folgada tinham ficado na capital angolana, junto dos despojos de uma primeira tentativa de vida: casa, carro, palmeiras e balouços… Só a primeira filha regressou com o casal, quando a casa foi invadida e queimada. Isso terá sido por volta da revolução, e já nessa altura se enchia o país com os portugueses de segunda que atafulhavam os portos de Lisboa e transformavam a paisagem da capital com as barracas improvisadas: português que é português sabe que tudo já está bem quando "arremedeia". Assim, criavam-se e transformavam-se bairros em Portugal, que segundo os retornados se assemelhavam às sanzalas, sempre depreciativas, sempre pouco higienizadas, sempre piores que as dos pretos, mas sempre vistas como provisórias. "Até que o governo nos dê uma casa", dizia-se, sem se saber ao certo quem era esse governo e sem conhecer as suas prioridades. Sem saber quando viria essa casa e sem saber que Portugal era bastante mais frio para as crianças e para as bananas e mangos e abacates que agora já não cresciam à beira das estradas. Sem saber que para sempre seriam conhecidos por retornados e que isso os impediria de aceder à classe dos bem-vindo. Que nunca seriam emigrantes tão bons como os lusofranceses, lusobrasileiros, lusocanadianos, lusoamericanos e outros bem vistos lusos.

Outros princípios, a cheirar ao novo ano em Divas & Contrabaixos e em O Afinador de Sinos. Todos aqui.