segunda-feira, junho 16, 2008

da crítica literária...

era um poema tão velho, tão velho, tão velho, que entrou em decomposição: eram sílabas métricas por todos os versos... nunca chegou a recuperar... pediu a extrema unção ao crítico e eutanasiou-se.
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sábado, junho 07, 2008

cobardia

não havia mais nada a fazer
pelo poema já moribundo
senão publicá-lo
e comparecer ao seu enterro
disfarçado de leitor

(uma coroa de flores murchou
detrás dos meus óculos escuros de aba larga)

no dia seguinte pude ler
"poema morre de causas desconhecidas.
desconfia-se do autor.
dezenas de leitores comparecem ao funeral
depois de dois dias em poesia ardente."

era mentira:
o poema morreu anónimo
ninguém o leu
não consta na genealogia que tivesse família

(a imprensa inventou a sua opinião pública)
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sexta-feira, junho 06, 2008

ceci n'est pas un poème

extravasada de palavras
prenhe de sintaxe que perdeu os sentidos
a folha cheia é a antítese do poema

a poesia esconde-se
no verso vazio da folha
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terça-feira, junho 03, 2008

pacto

penetra-me
à altura da alma:
aí mais ninguém saberá entrar

- o corpo, esse,
come-lo-ão os bichos -
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