sábado, novembro 11, 2006

o meu Valentine

só o meu Valentine
fede de vinho a martelo
e me dá rosas roubadas
do jardim de um shopping
todas as noites me oferece
um dos anéis de Saturno
e inventamos o amor em torres de areia
de prédios em construção
o seu perfume é glandular
de água com sabão azul
e a sua boca tem o sabor doce
de cigarro com pastilha elástica
saimos a passear
nos autocarros vazios da cidade
à conversa sobre futebol e Zara
enquanto inventa sobre raparigas que não teve
e me conta lugares que não existem

jura que os meus olhos são lindos
de cada vez que me deita sobre a areia
desmanchamos as torres
e os meus cabelos se enredam na areia fina e crivada

sabe chorar
e eu sei amá-lo por isso

9 comentários:

Anónimo disse...

Valentins há muitos :) Gosto do teu, mas deixo outro à consideração. Este é funny e já o dediquei em tempos, outro contexto!!!!

= My funny valentine =

Cheguei a casa há pouco e amanhã
celebrarei contigo pla primeira vez
esse dia que alguém convencionou
ser para os namorados: eu e tu,
dois seres quase sonâmbulos,
afogados em histórias mal cicatrizadas
que extravasam ao longo de conversas
plas estradas nocturnas por onde fugimos
da vida que nos dói: velhos amores
refulgindo na tua memória,
na minha fantasia que os volta a viver
em ti, por ti, como se também eu
ressentisse na pele o sabor desses beijos
esvaindo-se no tempo, que lhes toca
ao de leve, com lábios de veludo,
e os arrasta num caudal de espectros,
de vagas silhuetas, na penumbra
que foi a minha vida até chegar a ti.

Pareces tão real, ainda mais real
que as ondas desse mar sempre tão cúmplice
durante as poucas horas absorvidas
entre um bar sem ninguém e o silêncio
dentro do carro, ali onde abrigámos
a nossa mágoa, a sós, fora do mundo,
e o peso gelado de um remorso
até explodir, baixinho, sob um véu de lágrimas
nos teus e nos meus olhos. Não adianta,
a vida sabe sempre acontecer
quando menos esperamos, em segredo,
e eu regresso a ti, num arrepio sem glória,
mas tão preso ao destino que nos coube,
à música do cosmos antes de nascer,
enquanto alguém dedilha num piano
os acordes febris que estilhaçam a noite
e escorrem pouco a pouco dos meus lábios
como a baba de um anjo alucinado
que só por tua causa enfim reconhecesse
o rosto mais fiel do paraíso.

Estou mais tranquilo, agora, sei que dormes
algures nesta cidade venenosa:
consigo mesmo ouvir daqui a tua
respiração submersa,
tão perto de outro corpo e já tão dentro
da minha alma. O sol nasceu,
a casa está vazia e amanhã
é dia dos namorados.

Fernando Pinto do Amaral

contradicoes disse...

Venho retribuir a agradecer a visita.
Com um abraço do Raul

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

... e de repente, pensei que este poema dava uma boa canção "à" Chico Buraque de Holanda :)

inominável disse...

Ok, MRF... vou falar com a dona do Sulbúrbio (Idinha, é contigo amor!) e ver se ela dá uma palavrinha a esse senhor... até gosto dele, por isso não me importo...

"Ai Chico, que ainda vais ouvir falar de mim" eh eh eh

(presunção e água benta, cada um toma o que quer)

Ida disse...

Olhem, minhas meninas, daqui o que me ocorre são "os futuros amantes", mas já estão lá no Sulburbio, para quem quiser ler e ouvir que o link leva direto para o áudio.

Mas, apetece-me seguir a linha desta linda menina sem nome de seu que o senhor alitãoperto resolveu esticar. Já volto.

Qto ao Chico, ele estava no cotovelo da Europa, ao sul dessa germânia, ainda na semana passada... longe, pra mim. Bjinhos

Paulo disse...

Saber chorar é, de longe, a maior virtude que em nada se estriba em desabono de um homem "recto"...conter as emoções, ceguinhas de choro, é um pranto errado e vazio que nos tritura o interior dos instantes. Assim, quando um homem chora, é sinal de que é um homem completo no verdadeiro sentido da palavra.
Obrigado pela visita.
Paulo

Francis disse...

Depois duma paixão assim, só faltam mesmo as castanhas assadas! :-)))
Kiss, kiss!!!

inominável disse...

castanhas assadas e geropiga...

Anónimo disse...

posso ser o teu Valentine?