quarta-feira, dezembro 20, 2006

O Livro dos Bons Princípios (16)

1990. A vida decorre sem sobressaltos num Portugal que se acostumou a aplanar tudo, todos os buracos, com o betão e o alcatrão vindos da Europa, essa abençoada união robinwoodesca que partilha com os pobres as sobras dos ricos. Por esta altura, já só saem caravelas e naus das cabeças das pessoas, ainda acostumadas a sonhar com as alturas, mas obrigadas a aceitar que o país não cresceu, que o abecedário é conhecido apenas de alguns e que em outros lugares da mesma Europa, voam concordes, ganham-se prémios nobel e avança-se para o futuro, tentando esquecer que a liberdade é uma arma que se utiliza e desenvolve em tempo de guerra. Enquanto que algumas cabecinhas continuam a sonhar com um Salazar sebastiânico, outras começam a disfrutar das novas estradas e pontes e vias férreas, agradecendo por haver quem dê cavaco à ironicamente pequena distância entre o interior e o litoral, entre o norte e o sul. O que ainda neste tempo não se sabia é que outras pontes não se constroem com cimento e trabalho mal pago.

Despois deste prolegómeno prospectivo, penso que se pode agora começar a história de Amandina. Nascida e sempre vivida em Portugal, numa aldeia próxima do litoral aveirense. Vista como promissora, excepto por ela mesma. Criada para ser católica apostólica romana, preparada para a vida e para o casamento com que nunca sonhou, com o português dos sonhos que nunca encontraria. Habituada a ser a melhor por falta de concorrência. Farta de viver numa casa onde todas as superstições maternas enchiam o ar e os defumadouros constantes eram mais importantes que as discussões sobre lógica e realidade. Onde só as supostas vozes do além traziam verdades, confiança e curas.

Outros princípios à espera de um final em Divas & Contrabaixos e em O Afinador de Sinos.
Todos os bons princípios aqui...

16 comentários:

Anónimo disse...

Agora fazendo uma pequena análise ao teu texto.
o teu texto é uma crítica social e politica. estruturada e bem escrita arrisca um tema batido mas que não deixa de ser actual, contudo, que não deixa de ser dogmático. não o podendo esquecer tentemos compreender determinados comportamentos que levam seres simples influenciados por gerações a agirem como modernos autónomos, normalizando costumes e rituais.
Pergunto: porquê que nos dias de hoje , além dos novos descobrimentos científicos, ainda se continua a acreditar em algo que não se vê?
Será por na metafísico não haver politica?

inominável disse...

obrigada pela tua análise tã consciente e afiada.... faço das tuas palavras as minhas e junto uma nuance: "o que leva seres simples... a agirem como modernos autómatos e padronizados"?

e faço mais um jogo: "será que é por na política não haver metafísica?"... ou será que há?

Unknown disse...

eis a questão!

hihihi

quem diz que tudo está descoberto?

espero que nunca se descobra tudo e tu?

Anónimo disse...

errata:

onde se lê descobra deve ler-se descubra.

Ida disse...

Se tivesse o dom, partia desse teu princípio pra continuação. Esse tema ronda-me a existência, por razões genéticas ou arquetípicas. Ou simplesmente porque li com muito empenho o Torga todo. Quem sabe quando terminar o artigo, que já virou um castigo.


PS:O Christian respondeu, não tenho mais prazo do que a primeira semana do ano. Brigada pela msg, die Weinachten vai ser onde?

isabel mendes ferreira disse...

العربيه (Arabic)
‏(نداء) دعاء بالسامه, دعاء بالتوفيق‏




Bom dia.


beijos e abraço....


Tradução: Feliz natal....deus te guarde.



:)))))))))))

inominável disse...

Obrigada pelos votos de bom Natal... retribuo a todos, como é claro... e fiquei muito contente com as palavras em árabe, que quase ficam irónicas (ou há Natal no mundo árabe?)

die Weinachten vai ser na aldeia que acabaste por não conecer, Idinha!

Diogo disse...

Que diabo aconteceu a Amandina?

a) Tornou-se uma dona de casa de sucesso.

b) Escreve livros sobre dirigentes desportivos com uma ética muito própria.

c) É ministra da cultura.

CN disse...

Fröhliches Weihnachten, viele Liebe, Tonnen der Küsse, das ganze Glück für Sie und das derjenig, die Sie lieben. Carlos

Ida disse...

Tá certo, antigamente era chique falar francês, agora, é essa língua bárbara. Vá lá que, ao menos, recupero tempo e dinheiro gastos naquele curso há 10 anos atrás.

Mas eu continuo uma chique da antiga. Je te souhaite, donc, un bon et heureux Noël, et fais gaffe, arrête d'embêter le pauvre vieux, avec tes rengaines d'un mec grand, beau, costeau, aux poches pleines... il a déjà de quoi s'amuser avec les traitements pour la cellulite de Mère Noël et les allocations de sa première épouse.

Que le nouvel an soit plein de joie et de voyages de vancances, et pas d'articles à écrire.

Terra disse...

(I)Nominável,
Quem assim escreve tem, sim, um nome.
Passo sempre, mas não deixo marcas.
Hoje desejo-te felicidades para o ano que vai entrar e desejo-me que te mantenhas por aqui.
beijo
B.Amarela ;-)

Anónimo disse...

Adorei, adorei adorei. Não sei que mais dizer. Olha, adorei, e o Bom Natal e tudo, estava divino. Escreves como se escrevesses sempre no Natal: divinamente. beijinhos
http://eslindanaomudescontinuaassim.blogspot.com/

Anónimo disse...

Continua. nâo mudes....

Ida disse...

Dá beijinhos carinhosos ao bárbaro branquinho e aos meus bárbaros amigos. Os cartões seguiram, mas com o calor que está, ainda nem devem ter saído daqui, pois quem aguenta carregar fardos sem ser papai noel a 35 C? Acho que nem ele. Muitos beijos e ótima noite.

PS: As rabanadas ficaram deliciosas! Já posso casar!:p Mas vê lá se não vais fazer a maldade de dizer isso ao Weihnachtsmann nem ao Christkind!

inominável disse...

Idinha, depois das rabanadas, um repto: casa-te e convida-me para madrinha! irei com o bárbaro do costume a que ainda não me acostumei... o costume mata tudo :P

Sofocleto, um aviso à bçlogosfera portuguesa? isso não será trote da treta?

Klatuu o embuçado disse...

Vai sonhando... :)=