terça-feira, outubro 31, 2006

O acaso mora ao lado

O Feliciano tem um cão. Uma mulher. Um filho. Uma amante. Um quintal.

Um dia, o filho morre. No dia seguinte, morre a mulher. A seguir a amante. No quintal tudo murcha e se descolora. O cão uiva pela última vez quando Feliciano se desfelicita e falece.

O resto são coincidências e não interessam.

21 comentários:

Anónimo disse...

olá. belo post. parece a redacção de uma criancinha, mas vê muito longe... fiquei indeciso entre existencialismo e nihilismo...

Ida disse...

Olha, minha menina, não vás pensar que eu tou desviando o assunto ou que dei para te paparicar, mas subitamente teu texto lembrou-me algo que me fez pensar Drummond, e o que eu pensei é isso... essa coisa abrupta e poética. Vê lá:
Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras

mulheres entre laranjeiras

pomar amor cantar

Um homem vai devagar.

Um cachorro vai devagar.

Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond de Andrade

inominável disse...

adorei, Idinha! Olha, quando eu aí fôr outra vez, ofereces-me o Drummond??? vá lá!!!! Eu sou tão querida e fofinha.... e sou amiga...

Prof. Bambu - Visconde de Mauá Visconde de Mauá disse...

Lindo.....

O resto são coincidências e não interessam.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

e todos somos o Feliciano, com uns compassos de tempo a mais ou a menos, entre coincidências. vida de comum (existe incomum?)mortal é assim mesmo! :)

Anónimo disse...

Inominável: gostei do que escreveste sobre educação, e da forma como o fizeste: és um ser superior, nunca duvidei. Continuo à espera de ler coisas tuas. A sério. LA

Anónimo disse...

Não falei do teu Feliciano: antes de morrer deixou um testamento. Li-o há dias, falava de pássaros mortos e de lama, deixava as lágrimas que ainda não chorara ao carcereiro, pedia para ser cremado e as cinzas lançadas na ria. Ninguém acompanhou o enterro e pelas ruas segredava-se àcerca da amante, da mulher e do cão. Feliciano sofrera porque a amante o trocara pelo cão, e quando o confessou à mulher, esta finou-se. A seguir a amante lançou-se de um quarto andar, e não teve sorte na queda. Levou consigo e pedreiro que calcetava o passeio. A cidade sofreu em silêncio. Todos falavam nas coincidências, mas ninguém indicou quais. Esperaram pela "Folha do Vento Suão", que aparecia no fim de semana, para saberem ao certo o que tinha acontecido. O jornal ardeu, e o cronista de serviço fugiu com uma espanhola que conheceu num bar de alterne. Ambos foram vistos a curtir uma boa num albergue de Sevilha. Coincidências, onde?
LA

inominável disse...

que bestial.... ainda me estou a rir sem parar... sim, onde estão as coincidências????

Prof. Bambu - Visconde de Mauá Visconde de Mauá disse...

inominável :

Obrigado por me teres feito perder a virgindade do meu blog.

inominável disse...

sempre à disposição LOL

Anónimo disse...

Vamos escrever um texto a quatro mãos? Dá o mote. Arranca. Todos os dias te visito e tento acompanhar. Vai ser dificl, mas... seria aliciante. Fiquei com vontade, depois da experiencia de ontem. Vale tudo, até tirar olhos. Realismo, surrealismo, hiper realismo, fantástico, o que aprover. Grande ou pequeno, consoante a inspiração do momento, se o momento tiver inspiração. Um beijo. LA (assino assim, pq de outra maneira aparece aquele relambório todo com foto e tudo).

inominável disse...

Não sei se é possível a 4 mãos... é provável que apareçam outras... e serão acolhidas...

Just ways and see...

Anónimo disse...

E passeamo-nos assim pela vida, pé ante pé até à coincidência seguinte.


Pensei que assinava assim, LA, porque se tinha passado para o lado dos anónimos, de vez.
:)

Lauro António disse...

Inominável: Cá estou à espera. A mais de quatro mãos será um perfeito (?) cadáver exquis. A ver vamos. Resultará?
mfba: as coincidencias nunca passam, ficam. Mesmo que, pé ante pé, passeemos pela vida, até à coincidência seguinte.
Nos blogs não vou passar de lado. lol LA

Diogo disse...

Eis uma história não muito feliz. As coincidências são mais alegres.

inominável disse...

Já em Sevilha, em luta pelos direitos dos animais, o cronista e a espanhola conheceram um toureiro reformado que bandarilhou a espanhola, corneando o respectivo recém-ex. Entre outras pegas e pêgas, acabaram os três a curtir uns chopitos já em Malaga... acompanhados da Consuelo e da Maria Magdalena, que ainda não tinham entrado na história...

Ida disse...

Ai, ai, ai... desculpa,, mas não resisti.... Olha ele aí de novo... ou tavas com referências na cabeça ou a poesia é um arquétipo universal

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
CDA

E ainda volto com umas antigas de sevilhana que me vieram neste isntante à cabeça

inominável disse...

Ó Idinha... essa referência interliterária foi de propósito... eu adoro essa coisa linda que citaste... sim, desta vez já conhecia :)

ignorância tem limites (bom, os meus limites andam um pouco como o elástico a que já passou o prazo)...

volta com as sevilhanas e uns Banderas, se te apetecer LOL

Ida disse...

Genial a imagem do elástico... és mesmo "a gaja"! Sim... eu acreditava em algo proposital, mas não tinha certeza... Volto sim... neste momento tou tentando dar conta daquelas coisas q bem sabes... te juro q por um ano não movo um dedo para publicações científicas... tou pelas orelhas... mas não é nada contigo, ao contrário... bxus (é assim q a Flavinha se despede no msn).

Anónimo disse...

Acaso que puedes traducirlo al español o al inglés?
qué dificil es la vida cuando estás ahogada del quehacer...la imaginación, lo creativo, se desaparece de ti y te quedas vacía...

inominável disse...

Ritita!!! Como te va todo? Y Taiwán? Que haces tan lejos de mi, mi mona tonta preferida??? Te echo de menos...