terça-feira, maio 20, 2008

Léo Férré et la poésie

É por concordar com estas palavras, à distância de mais de 50 anos, que as transcrevo...

"La poésie contemporaine ne chante plus. Elle rampe. Elle a cependant le privilège de la distinction, elle ne fréquente pas les mots mal famés, elle les ignore. (...) On ne prend les mots qu'avec des gants: à ‘menstruel’ on préfère ‘périodique’, et l'on va répétant qu'il est des termes médicaux qui ne doivent pas sortir des laboratoires ou du codex. Le snobisme scolaire qui consiste à n'employer en poésie que certains mots déterminés, à la priver de certains autres, qu'ils soient techniques, médicaux, populaires ou argotiques, me fait penser au prestige du rince-doigts et du baise-main. Ce n'est pas le rince-doigts qui fait les mains propres ni le baise-main qui fait la tendresse. Ce n'est pas le mot qui fait la poésie, c'est la poésie qui illustre le mot.(...)

Nous vivons une époque épique et nous n'avons plus rien d'épique. A New York le dentifrice chlorophylle fait un pâté de néon dans la forêt des gratte-ciel. On vend la musique comme on vend le savon à barbe. Le progrès, c'est la culture en pilules. Pour que le désespoir même se vende, il ne reste qu'à en trouver la formule. Tout est prêt: les capitaux, la publicité, la clientèle. Qui donc inventera le désespoir ?

Dans notre siècle il faut être médiocre, c'est la seule chance qu'on ait de ne point gêner autrui.
L'artiste est à descendre, sans délai, comme un oiseau perdu le premier jour de la chasse. Il n'y a plus de chasse gardée, tous les jours sont bons. Aucune complaisance, la société se défend. Il faut s'appeler Claudel ou Jean de Létraz, il faut être incompréhensible ou vulgaire, lyrique ou populaire, il n'y a pas de milieu, il n'y a que des variantes. Dès qu'une idée saine voit le jour, elle est aussitôt happée et mise en compote, et son auteur est traité d'anarchiste.(...)"

Préface de "Poète...vos papiers !" 1956 (excertos)
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6 comentários:

joão marinheiro disse...

Léo. O grande mestre perante o qual me curvo em respeito pelas palavras e pela musica. Não sei se a língua francesa estará demodé, ou se as pessoas contaminadas pela globalização perderam o sentido e agora falam todas em inglês, a linguagem dos jogos de computador, a linguagem das máquinas infernais que nos controlam, por mim andarei sempre à margem, a língua francesa tem uma musicalidade própria que me encanta e da qual gosto. Mas é o meu gosto.

A propósito deixo-te dele estas palavras tão actuais.


VARIEDADES

Não passo de um artista de Variedades e não posso dizer nada que não seja «de variedades», para não ser acusado de falar de coisas que não me dizem respeito.

Como eu dizer-lhes que um Primeiro-Ministro britânico ou mesmo papua
Ou de outro sítio qualquer podia ser qualificado de incompetente.

Como eu dizer-lhes que um ministro do Interior
Duma república longínqua ou mais próxima podia ser um canalha.

Como eu dizer-lhes que as cadências nas fábricas Renault são extenuantes.

Como eu dizer-lhes que as cadências são extenuantes para os operários
Nunca para os presidentes.

Como eu dizer-lhes que a humilhação devia apesar de tudo
Ser travada, quando se trata das mulheres das indústrias químicas
Com os dedos roídos pelos ácidos e com os pulmões à rasca.

Como eu dizer-lhes que em Tourcoing e de modo geral nos têxteis,
Neste momento, é fácil mandar para a rua.

Como eu dizer-lhes que pode dar-se o caso de haver um prisioneiro politico
Cujo julgamento foi um mero pró-forma.

Como eu dizer-lhes que era capaz de seguir na rua
Aquele procurador que olha com agua na boca
Para o ventre duma menor, duma criança.

Como eu dizer-lhes que o tal procurador poderia ser o mesmo
Que poderia ter requerido contra aquele prisioneiro politico
Cujo julgamento foi mero pró-forma.

Como eu dizer-lhes que um intelectual pode descer à rua e vender o jornal.

Como eu dizer-lhes que este jornal é um jornal que poderia ter sido proibido.

Como eu dizer-lhes que o país que embirra com a liberdade de imprensa
É um país à beira do abismo.

Como eu dizer-lhes que o governo interessado por este género de imprensa
De oposição, poderia sem duvida estar convencido de que não há causa sem povo.

Como eu dizer-lhes que o tal jornal que poderia ter sido proibido
Pelo tal país à beira do abismo talvez se pudesse chamar: La cause du Peuple.

Como eu dizer-lhes que, no caso improvável de ser proibido
O jornal La cause du Peuple, seria necessário compra-lo e lê-lo.

Como eu dizer-lhes que se tornaria necessário falar dele aos amigos.

Como eu dizer-lhes que os amigos dos vossos amigos
Podem fazer milhões de amigos.

Como eu dizer-lhes para irem todos juntos fazer a revolução.

Como eu dizer-lhes que a revolução talvez seja uma variedade da política.

E não lhes digo nada que não seja «de variedades», eu que não passo de um artista de Variedades.

Abraço daqui com chuva miudinha de primavera e mar

inominável disse...

bestial... muito muito muito bom e muito muito muito obrigada...

foi uma contribuição muito tocante... e actualíssima...

Bandida disse...

tu não imaginas o que gosto destas palavras, deste homem único...


acho que vou transcrever para o bandida... lá na folha dos comentários...

Bandida disse...

olha, já lá está...

:)

un dress disse...

a ideia de tudo se vender dá-me náuseas.


porque sei que é verdade...

ai...





beijO

Lóri disse...

Dans notre siècle il faut être médiocre, c'est la seule chance qu'on ait de ne point gêner autrui.
No momento, este é o meu trecho favorito. Neste nosso século e em todos os outros. Ser medíocre é o mais seguro, mas não o ser ainda é o que nos faz merecer os segundos incontáveis de oxigênio com que somos abençoados, caso nos assalte a consciência do "ego sum". Caso isso não aconteça, que importa o oxigênio ou o quanto dele ainda nos resta?

Beijinhos poetinha linda de cria à roda!