não havia nele nada de especial. ela também não era especial. duas almas vazias frente ao precipício. felizes.
um encontro de dois pares de olhos vendados, felizes de se encontrarem sem se verem... a visão seria inútil. ninguém se vê. ninguém nunca se vê.
havia muitos copos de vinho tinto vazios sobre a mesa. nada neles era especial, excepto o anonimato e a liberdade do anonimato numa cidade grande, tão grande, tão grande. nada excepto o gosto do anonimato. e a fealdade.
mas eram almas felizes embriagadas, pintadas a tinto na esplanada do bar, que tinha aquele nome elegível e comidas com nomes ilegíveis e bebidas de nomes ilegíveis. nada de especial, naquela cidade grande, tão grande como a extansão das palavras naquela língua.
dois pares de pernas e de braços e de abraços desconhecidos numa cidade grande. o desejo da pequenez do quarto. o desejo da pequenez do sexo. o desejo de um vazio com significado. o desejo de um grande vazio, rodeado de nada a toda a volta, ilha-vácuo de uma cidade grande desconhecida e apertada.
eram só duas bocas numa cidade que se falavam entre si. e os braços daquelas bocas enterravam-se na noite que se abria.
nada de especial. nem lindo. só o encontro de dois estrangeiros numa terra estranha. as entranhas abertas.
3 comentários:
parece o nascimento de um romance banal, como todos os romances... ou não fossem ridículas todas as histórias de amor...
o melhor primeiro encontro que li.
... e talvez o último :(
Enviar um comentário