... e foi quando eu voltei a cabeça e voltei a ver tudo. tudo outra vez. devagar. ele agarrava-a contra a parede e eu vi tudo. beijou-a num beijo mutuamente consentido. sim, vi. e doeu uma dor pequenina e alcoolizada, embrulhada em analgésico etílico ... e depois acabou. não era possível continuar a brincar porque sentiamos que era um jogo masoquista.
... pergunto-me há quanto tempo ela estará apaixonada por ele. como me suportará. como conseguirá fingir que suporta o que digo e faço. pergunto-me se não seria capaz de lhe arrancar todos os cabelos...
... e volto a ver tudo. outra vez. ele agarra-a contra a parede. outra vez. na minha cabeça todos os dias vejo aquele beijo consentido... que eu terei provocado, pensando que o analgésico funcionaria para lá da consciência, do sentimento, da visão material, dos factos... depois acabou.
... pergunto-me se vale a pena brincar assim... às escuras... dentro de mim sem saber durante quanto tempo vai doer. pergunto-me se não era capaz de sair pela rua a distribuir beijos... pergunto-me se vai doer menos quando deixar de o amar... e forem ambos pó.
volto a ver tudo e fecho os olhos.... mas estou sóbria. ainda dói. e ele ainda a beija contra a parede.
5 comentários:
Um beijo que dói ao olhar? Foge dele(s)...
surreal ou sobre o real? conta lá... sem medos... não faz mal...
Que lindo esse beijo! Ou deveria dizer esse quadro q pintas de forma sutil e cortante, sem meios-tons, sem piedade... será ela, ou serei eu, ou seremos nós todos e todas...
Não sei bem pq isso tudo me lembra Amélie Nothomb, Le sabotage Amoureux, e algumas vidas atrás, e algum amante atrás.
Pois Idinha, sem dó nem piedade... notações de quem passa muito tempo a pensar em coisas... impressões de passagem na rua, no mundo...
Enviar um comentário