sábado, junho 07, 2008

cobardia

não havia mais nada a fazer
pelo poema já moribundo
senão publicá-lo
e comparecer ao seu enterro
disfarçado de leitor

(uma coroa de flores murchou
detrás dos meus óculos escuros de aba larga)

no dia seguinte pude ler
"poema morre de causas desconhecidas.
desconfia-se do autor.
dezenas de leitores comparecem ao funeral
depois de dois dias em poesia ardente."

era mentira:
o poema morreu anónimo
ninguém o leu
não consta na genealogia que tivesse família

(a imprensa inventou a sua opinião pública)
.

16 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, muito muito bom! Parabéns...uma coisa inteligente para me aliviar a grande neura!

inominável disse...

este blogue é "neurotic friendly"... e nem é preciso fazer contribuições em géneros...

Graça Pires disse...

Excelente o poema.
Quantos poemas morrem anónimos... E poetas também...
Um abraço.

Anónimo disse...

belo trocadilho literário. um poema que não há-de certamente morrer :)

DE-PROPOSITO disse...

o poema morreu anónimo
-----------
Teria morrido anónimo!... Mas a partir do monento em que falaste nele, deixou de ser anónimo.
Fica bem.
Felicidades.

Lóri disse...

Genial, menina! Afinal, a Frieda deixa-teum tempinho para dares vazão a essa tua alma sempre em ebulição. Beijíssimos nas duas... e no bárbaro!

inominável disse...

beijinhos em ebulição recebidos... Ela é todo o meu tempo... e o meu tmepo é dela... é ela que o (des)faz...

CCF disse...

Tantos que (nos) morrem assim.
Abraço
~CC~

isabel mendes ferreira disse...

só me ocorre:


BRILHANTE (menina linda) BRILHANTE.
mesmo.

Licínia Quitério disse...

Poemas que morrem enjeitados. O autor é o suspeito da sua morte.

Gostei mesmo de te descobrir.

Um abraço.

inominável disse...

enjeitados... era mesmo essa a palavra... pbrigada por ma teres trazido... enjeitados mesmo...

Muadiê Maria disse...

Quando eu era criança um bezerro foi rejeitado por sua mãe e foi parar na casa de meu avô, onde estávamos eu e meus primos. O nome do bezerro ficou sendo Enjeitado. Cuidávamos dele, dávamos mamadeira de leite pra ele. Foi uma experiência maravilhosa.

Sua poesia está muito muito boa!
bjo
m.

inominável disse...

Olá MariaM!

a minha mãe sempre fez isso com os leitões que ficavam sem teta da porquinha... não eram enjeitados à partida, mas não havia já lugar para eles...

Alberto Oliveira disse...

... já fiz isso com uma prosa minha. Mas fui descoberto no meio da multidão de duas pessoas (o autor e eu) que assistiam à cerimónia fúnebre e desmascarado publicamente. Desde esse momento que prometi a mim mesmo nunca mais comer sopa de massa de letras. Aliás, eu nunca como sopa.

Claudia Sousa Dias disse...

mas porquê, porquê, PORQUÊÊÊ...?!

csd

joão marinheiro disse...

Nem imaginas o sentir do poeta a ver a obra assim esbanjada em palavras por dizer. As palavras a morrerem na praia. A praia é qualquer lugar onde se escuta o lamento do mar. As palavras em mim tem de ter mar pelo meio...
Excelentes palavras/poema as do teu poeta/poetisa.
Abraço com mar.