quinta-feira, julho 13, 2006

Abnegado (curta-metragem 3)

Não me importo que me voltes a deixar se isso significa que vais voltar. Não, não me importo. Dás-me sempre mais do que levas em cada fuga… Trazes sempre mais depois de cada traição. Em que braços recolhes as prendas que me dás? A que braços desprevenidos roubas as ilusões?
Não me importo que a cada regresso redigas que não me amas, que já não me amas, que nunca me amaste… Sei que é a tua forma sádica de me veres chorar. E é das minhas lágrimas que gostas antes de me desembrulhares o corpo, antes de o embrulhares no teu… É o meu sofrer-te que te regressa.
Não me importo que o ciúme me queime porque assim sei que se ardo é por ti, chama da minha consumição, escuridão sem archote, labareda sempre acesa dos meus demónios, tu, tu, tu, tu, gota de água só prometida, nunca alcançada. Água do meu consolo. Água em que me afogo, eu ainda em chamas… Chama-me! Falsa salvação.
Não me importo que digas que não tenho nada. Tenho-te nesse nada que é o meu mais-que-tudo e que tu não vês. Tenho-te no desassossego das noites sem ti… nas palavras que não dizes e que me invento. Tenho-te no vento. Tenho-te em todas as janelas dos amantes sem pudor. Em todas as praias com voyeurs. Em todos os sonhos em que te chamo e tu vens obediente e submissa e tão fora de ti que me pareces.
Vou-te ter sempre, mesmo quando acreditares que já não vais regressar e que estaremos até ao fim separados: separados na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos reúna…
Vês??? Não me importo que me enganes, que me desprezes, que me mintas, que não me sintas, que me deixes vezes sem fim porque eu sou o teu fim, ponto final, o teu secreto destino. Esse é o meu orgulho: ter-te quando já não puderes ser de mais ninguém…

5 comentários:

Anónimo disse...

PAra mim, parece poesia...

Anónimo disse...

Lindo mas obsessivo... o registo parece feliz, mas é tão triste quando começas a dissecar as frases...

Gostei mas espero que não seja auto-biográfico!

Onde aprendeste a escrever?

inominável disse...

Tudo é auto-biográfico... O que depois se escreve e se lê depende do filtro de cada um...

Tudo é auto-biográfico, dependendo da imaginação.

Tudo é auto-biográfico, dependendo da capacidade de síntese de emoções.

"O beijo" é mais autobiográfico do que "Foi assim" ou "Abnegado"? Sim. Mas só porque é do domínio factual (aconteceu)... mas o que me coloco como verosímil, inspirada em factos que vi, senti ou pressenti tb são auto-biográficos... Em última análise, sou sempre eu...

Ida disse...

va plantar batatas... q tas tu a fazer no meio desse raio de tese, mulher? Depois desse post-resposta, o q somos nos pobres mortais q so retrucamos, e nao incitamos...

Agora, depois desta reacçao explosiva... concordo totalmente contigo, tudo é auto-biográfico, o q escrevemos, dizemos e ate mesmo o olhar q pomos sobre o mundo e as pessoas, so vemos e sentimos algo q aprendemos prealablement... dommage!

inominável disse...

como descobriste esse meu gostinho pessoal pela agricultura e pela vida campestre? gosto de batatas, pepinos, tomates... feijão com arroz, "trepar às árvores" :)